Quando chegou
a décima primeira fome
os teus ombros solares
aceitaram o arco final
e a farinha parou
na saliva da memória.
O teu rosto
rendeu-se à pedra que rasteja
e só a tua alma pequenina
se move
a beber num riacho que não vemos.
A culpa foi tua
por pedires lugar à vida
dentro deste tempo.
Ó filho da ausência,
quem te disse para vires?
Se quiseres ver o teu planeta
regressa depois
quando a tua pequena boca
não for demasiada,
quando se repartirem madrugadas
e o pão que sobrar
te fizer sequer lembrar que já morreste.
Perfil: Mia Couto (1955- ). Poeta moçambicano dos mais representativos, encontra na realidade do dia-a-dia a inspiração para retratar o sofrimento de seu povo.
É diretor do jornal "Notícias", órgão da República Popular de Moçambique.
Obras: "Raiz de Orvalho".
Fonte: “Antologia escolar”, org. de Iguamir Antonio Marçal. Biblioteca do Exército, RJ, 1995.
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